quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Morte magnética



É uma contradição que me divide a alma. Na juventude cultivei o gosto pelo heavy metal, sobretudo as bandas mais tecnicistas, independentemente do estilo.

Para mim, tudo aquilo fazia sentido. Não apenas o som brutal, mas os solos, os efeitos da guitarra, os contratempos, as letras, o imaginário.

Os concertos eram uma coisa difícil de descrever. Os melhores vi no pavilhão dramático de Cascais, ao qual fazia muitas vezes uma romaria negra sózinho.

Nunca faltavam amigos desconhecidos. A Sagres escorria, falava-se de bandas, de músicos, de discos. Havia sempre um ou outro atordoado pela confusão e pelas drogas e álcool ingeridos.
Minutos antes de tudo começar, uma grande tensão tomava conta de tudo e todos.
De repente, um som ensurdecedor. O público delira. Começa o mosh, o slam dancing, a descarga de adrenalida só possível numa festa metaleira.

A guitarra é rainha. A distorção estremeçe todas as células dos ouvintes, os bombos e o baixo, ameaçam as estruturas do pavilhão e os ossos da malta. Um grito terrível mistura-se com a guerra de decibéis. Começa a demolição de neurónios que permanecerá inabalável por duas horas seguidas.

Enfim. A contradição que me divide a alma é que as velhas canções ainda me soam bem, mas já acusam a idade e sobretudo o excessivo tempo de antena ao longo destes anos todos. Além disso, tal como alguém profetizou, se os velhos hinos tocarem demasiado tempo, já fazem doer a cabeça.

Por outro lado, o metal já não é o que era. Basta ver a patética morte magnética. Pensando bem é isso mesmo. Apesar de moribundo, o metal ainda atrai. E onde está o disco novo dos RAMP?
Contradições....




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