quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Meticulosamente efémero


No mundo fabricado pelo homem temos de distinguir os objectos de uso e as obras de arte. Ambos possuem uma certa permanência que vai da duração ordinária a uma imortalidade potencial no caso da obra de arte. Do ponto de vista da duração, as obras de arte são claramente superiores a todas as outras coisas. E contudo, são as únicas coisas que não têm qualquer função no processo vital da sociedade. Somente as coisas que existem independentemente de toda a referência utilitária e funcional podem merecer o epíteto de obras de arte, já que o critério de juízo de uma obra de arte é a sua beleza perante uma atitude desinteressada.


Não existe propriamente uma cultura de massas, mas lazer de massas que se alimenta dos objectos culturais. Crer que tal sociedade será mais cultivada com o tempo e o trabalho da educação é um erro fatal. Uma sociedade de consumidores não é capaz de compreender a arte porque a sua atitude central perante todos os objectos, a atitude de consumo, implica a ruína de tudo em que toca.

Hannah Arendt consumia as sebentas de Joaquim Caçuleta mas aguçava-lhe o apetite para empreender alguns discursos bem revolucionários nas poucas oportunidades que tinha para se expressar na colectividade secular de Moncarapacho. Estava decidido a lutar pela cultura franca e aberta contra o artificio e a farsa que se tinham instalado na sua anestesiada aldeia...

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