terça-feira, 31 de agosto de 2010
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
O xaroposo Dr. Kovacs
Era de uma falta de ética fora do comum e tratava todas as suas quezilias intelectuais de forma brutal aniquilando a concorrência com uma máquina especial adaptada de um assador de frangos que compunha um sistema de som ultrasónico feito à base de músicas de elevador o qual posto a circular na rede amolecia de sobremaneira os indefectiveis detratores deixando-os num melaço emocional por alguns dias. Kovacs era um tipo de poucos amigos mas de uma verborreia situacionista assinalável, deixando um rasto peçonhento na região onde efectuava os seus golpes sónicos. Era por outro lado acarinhado por uma pequena legião de amazonas muzak que efectivamente lhe davam razão para existir. Cuidado com ele...
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Tomané Raposeira curte Deleuze
CP: Vamos à letra V. V de Viagem. É a demonstração de que um conceito é um paradoxo, porque você inventou um conceito que é o nomadismo, mas você odeia viajar. A esta altura da nossa entrevista, podemos dizer que você odeia as viagens. Por que as odeia?
GD: Não odeio as viagens, odeio as condições em que um pobre intelectual viaja. Talvez se eu viajasse de outra maneira, eu adorasse viagens. Mas entre os intelectuais, o que quer dizer viajar? É fazer uma conferência do outro lado do mundo com tudo o que implica antes e depois: falar antes com pessoas que o recebem, falar depois com pessoas que o ouviram. Falar, falar... A viagem de um intelectual é o contrário da viagem. Ir para o outro lado do mundo para falar o que poderia falar em casa e para ver gente antes e depois de falar. É uma viagem monstruosa. Assim, é verdade que não tenho simpatia por viagens. Isso não é um princípio. Não pretendo ter razão, mas eu fico pensando: "O que existe na viagem?". Há sempre um lado de falsa ruptura. Este é o primeiro aspecto. O que torna a viagem antipática para mim? Primeiro é o fato de ser uma ruptura barata. Eu sinto exatamente o que dizia Fitzgerald: "Não basta uma viagem para haver uma ruptura". Se querem ruptura, faça outra coisa que não seja viajar. As pessoas que viajam muito têm orgulho disso e dizem que vão em busca de um pai. Há grandes repórteres que fazem livros sobre isso. Foram ao Vietnã, Afeganistão, etc. e dizem friamente que sempre estiveram em busca de um pai. A viagem me parece muito edipiana neste sentido. Não, assim não dá. A segunda razão é... Há uma frase maravilhosa que me toca muito, de Beckett, que faz um de seus personagens dizer o seguinte: "Somos idiotas, mas não ao ponto de viajar por prazer". Esta frase me parece totalmente satisfatória. Sou idiota, mas não ao ponto de viajar por prazer. Isso não. E o terceiro aspecto da viagem... Você falou em nômade. Sim, os nômades sempre me fascinaram, exatamente porque são pessoas que não viajam. Quem viaja são os imigrantes. Há pessoas obrigadas a viajar: os exilados, os imigrantes. Mas estas são viagens das quais não se deve rir, pois são viagens sagradas, são forçadas. Mas os nômades viajam pouco. Ao pé da letra, os nômades ficam imóveis. Todos os especialistas concordam: eles não querem sair, eles se apegam à terra. Mas a terra deles vira deserto e eles se apegam a ele, só podem "nomadizar" em suas terras. É de tanto querer ficar em suas terras que eles "nomadizam". Portanto, podemos dizer que nada é mais imóvel e viaja menos do que um nômade. Eles são nômades porque não querem partir. É por isso que são tão perseguidos. E, finalmente, o último aspecto da viagem... Há uma bela frase de Proust que pergunta o que fazemos quando viajamos. Sempre verificamos algo. Verificamos se aquela cor com que sonhamos está ali. Mas ele acrescenta algo muito importante: "Um mau sonhador é aquele que não vai ver se a cor com a qual sonhou está lá. Mas um bom sonhador vai verificar, ver se a cor está lá". Esta é uma boa concepção da viagem. Do contrário...
GD: Não odeio as viagens, odeio as condições em que um pobre intelectual viaja. Talvez se eu viajasse de outra maneira, eu adorasse viagens. Mas entre os intelectuais, o que quer dizer viajar? É fazer uma conferência do outro lado do mundo com tudo o que implica antes e depois: falar antes com pessoas que o recebem, falar depois com pessoas que o ouviram. Falar, falar... A viagem de um intelectual é o contrário da viagem. Ir para o outro lado do mundo para falar o que poderia falar em casa e para ver gente antes e depois de falar. É uma viagem monstruosa. Assim, é verdade que não tenho simpatia por viagens. Isso não é um princípio. Não pretendo ter razão, mas eu fico pensando: "O que existe na viagem?". Há sempre um lado de falsa ruptura. Este é o primeiro aspecto. O que torna a viagem antipática para mim? Primeiro é o fato de ser uma ruptura barata. Eu sinto exatamente o que dizia Fitzgerald: "Não basta uma viagem para haver uma ruptura". Se querem ruptura, faça outra coisa que não seja viajar. As pessoas que viajam muito têm orgulho disso e dizem que vão em busca de um pai. Há grandes repórteres que fazem livros sobre isso. Foram ao Vietnã, Afeganistão, etc. e dizem friamente que sempre estiveram em busca de um pai. A viagem me parece muito edipiana neste sentido. Não, assim não dá. A segunda razão é... Há uma frase maravilhosa que me toca muito, de Beckett, que faz um de seus personagens dizer o seguinte: "Somos idiotas, mas não ao ponto de viajar por prazer". Esta frase me parece totalmente satisfatória. Sou idiota, mas não ao ponto de viajar por prazer. Isso não. E o terceiro aspecto da viagem... Você falou em nômade. Sim, os nômades sempre me fascinaram, exatamente porque são pessoas que não viajam. Quem viaja são os imigrantes. Há pessoas obrigadas a viajar: os exilados, os imigrantes. Mas estas são viagens das quais não se deve rir, pois são viagens sagradas, são forçadas. Mas os nômades viajam pouco. Ao pé da letra, os nômades ficam imóveis. Todos os especialistas concordam: eles não querem sair, eles se apegam à terra. Mas a terra deles vira deserto e eles se apegam a ele, só podem "nomadizar" em suas terras. É de tanto querer ficar em suas terras que eles "nomadizam". Portanto, podemos dizer que nada é mais imóvel e viaja menos do que um nômade. Eles são nômades porque não querem partir. É por isso que são tão perseguidos. E, finalmente, o último aspecto da viagem... Há uma bela frase de Proust que pergunta o que fazemos quando viajamos. Sempre verificamos algo. Verificamos se aquela cor com que sonhamos está ali. Mas ele acrescenta algo muito importante: "Um mau sonhador é aquele que não vai ver se a cor com a qual sonhou está lá. Mas um bom sonhador vai verificar, ver se a cor está lá". Esta é uma boa concepção da viagem. Do contrário...
Professor Calixto leitor de Lacan
O professor Calixto encontrava-se numa encruzilhada (+ uma) na sua curta vida de filósofo expontâneo e autodidata. Tinha saudades do amor e vai daí remeteu o seguinte lacónico conteúdo em uma carta para Maria da Conceição, a sua confidente em matérias inflamáveis do coração:
"Se os freudianos interpretam (isto é, tratam de interditar) a resistência e as intensões edípicas, se os kleinianos interpretam (idem) a voracidade, a destrutividade e a inveja, e os lacanianos, a demanda (isto é, a mentira, o engodo, a contrafação), temos como resultado global que o psicanalista que eu chamo de "ortodoxo" (assim mesmo, entre aspas, porque sua pretensão à "opinião correta", significado original dessa expressão, não passa, na verdade, de pretensão) visa acima de tudo atingir, com suas intervenções, o id do paciente. Talvez os lacanianos não visem tanto o id. Afinal, a vigarice é coisa do ego. No entanto, a postura desse tipo de "psicanalista" "lacaniano" – sim, ambos os termos entre aspas – é de quem desanca um usurpador. Ainda que o paciente seja do tipo "toupeira", pois nesse caso ele estará usurpando uma paz à qual não tem direito. E a ambição, convenhamos, é sempre da ordem do id. Ergo… Não deve ser à toa que Lacan fala em "examinar o fundo falso da mala do paciente", e em outro lugar fala do psicanalista como um "violador de túmulos"… Os "psicanalistas" "lacanianos" (com aspas nas duas palavras) são aqueles que levam Lacan ao pé da letra, e mesmo sem ter estudado Lacan nem mesmo um pouco, a mim deu para entender que Lacan pode ser tudo, menos um literal. E pensar que é o próprio Lacan quem diz que ao psicanalista – agora sem aspas – são permitidos todos os pecados, menos o da ingenuidade…
Para os "freudianos", o paciente é um parricida incestuoso, a quem é preciso demover de suas horrendas intenções. Para os kleinianos (sem aspas. Winnicott deixava claro, ainda nos tempos heróicos do movimento kleiniano, que se Melanie Klein não impedia seus seguidores de formarem uma seita fundamentalista, era porque ela não queria. Ver "O Gesto Espontâneo", correspondência de D.W.Winnicott, editado por F.Robert Rodman, Ed. Artes Médicas, P. Alegre) ele é um monstro de indescritível selvageria, uma fera dificilmente domável caracterizada não apenas por um apetite insaciável, mas pela implacável satisfação com que estraçalha suas vítimas. E para os "lacanianos", o paciente é um idiota – um idiota que não sabe do que está falando, ou que pretende levar vantagem, e cuja cara é preciso esfregar na sujeira que ele sempre deixa sobre o tapete. (Ah, que saudade de um texto que guardei durante vinte e tantos anos – e por fim perdi – do saudoso Eduardo Mascarenhas, em que ele fazia um estudo antropológico desse tipo sobre cada uma das escolas da psicanálise).
Num sentido bem genérico, o "psicanalista" acima descrito não faz outra coisa, portanto, que bancar o superego do paciente. E um superego, convenhamos, dos mais canalhas, justamente porque entrou na história a pretexto de ajudar – e de libertar!
Sei que a declaração acima é um tanto exagerada. Conheço muitos colegas dessas três escolas que em nada se parecem com o "psicanalista" que acabei de descrever. Mas algumas experiências pessoais de análise, diversos textos e muitos "causos" contados por colegas me convenceram de que o alvo da psicanálise "séria" era sempre o id do paciente. A doença do paciente seria provocada, portanto, por seus impulsos socialmente intoleráveis (coisas do id…) ou por sua percepção inteiramente distorcida da realidade (aparentemente coisas do ego, pois isto se refere à análise "lacaniana", mas como tentei mostrar, é no id com suas maquinações que será "encontrada" a origem dessa "contrafação".)"
"Se os freudianos interpretam (isto é, tratam de interditar) a resistência e as intensões edípicas, se os kleinianos interpretam (idem) a voracidade, a destrutividade e a inveja, e os lacanianos, a demanda (isto é, a mentira, o engodo, a contrafação), temos como resultado global que o psicanalista que eu chamo de "ortodoxo" (assim mesmo, entre aspas, porque sua pretensão à "opinião correta", significado original dessa expressão, não passa, na verdade, de pretensão) visa acima de tudo atingir, com suas intervenções, o id do paciente. Talvez os lacanianos não visem tanto o id. Afinal, a vigarice é coisa do ego. No entanto, a postura desse tipo de "psicanalista" "lacaniano" – sim, ambos os termos entre aspas – é de quem desanca um usurpador. Ainda que o paciente seja do tipo "toupeira", pois nesse caso ele estará usurpando uma paz à qual não tem direito. E a ambição, convenhamos, é sempre da ordem do id. Ergo… Não deve ser à toa que Lacan fala em "examinar o fundo falso da mala do paciente", e em outro lugar fala do psicanalista como um "violador de túmulos"… Os "psicanalistas" "lacanianos" (com aspas nas duas palavras) são aqueles que levam Lacan ao pé da letra, e mesmo sem ter estudado Lacan nem mesmo um pouco, a mim deu para entender que Lacan pode ser tudo, menos um literal. E pensar que é o próprio Lacan quem diz que ao psicanalista – agora sem aspas – são permitidos todos os pecados, menos o da ingenuidade…
Para os "freudianos", o paciente é um parricida incestuoso, a quem é preciso demover de suas horrendas intenções. Para os kleinianos (sem aspas. Winnicott deixava claro, ainda nos tempos heróicos do movimento kleiniano, que se Melanie Klein não impedia seus seguidores de formarem uma seita fundamentalista, era porque ela não queria. Ver "O Gesto Espontâneo", correspondência de D.W.Winnicott, editado por F.Robert Rodman, Ed. Artes Médicas, P. Alegre) ele é um monstro de indescritível selvageria, uma fera dificilmente domável caracterizada não apenas por um apetite insaciável, mas pela implacável satisfação com que estraçalha suas vítimas. E para os "lacanianos", o paciente é um idiota – um idiota que não sabe do que está falando, ou que pretende levar vantagem, e cuja cara é preciso esfregar na sujeira que ele sempre deixa sobre o tapete. (Ah, que saudade de um texto que guardei durante vinte e tantos anos – e por fim perdi – do saudoso Eduardo Mascarenhas, em que ele fazia um estudo antropológico desse tipo sobre cada uma das escolas da psicanálise).
Num sentido bem genérico, o "psicanalista" acima descrito não faz outra coisa, portanto, que bancar o superego do paciente. E um superego, convenhamos, dos mais canalhas, justamente porque entrou na história a pretexto de ajudar – e de libertar!
Sei que a declaração acima é um tanto exagerada. Conheço muitos colegas dessas três escolas que em nada se parecem com o "psicanalista" que acabei de descrever. Mas algumas experiências pessoais de análise, diversos textos e muitos "causos" contados por colegas me convenceram de que o alvo da psicanálise "séria" era sempre o id do paciente. A doença do paciente seria provocada, portanto, por seus impulsos socialmente intoleráveis (coisas do id…) ou por sua percepção inteiramente distorcida da realidade (aparentemente coisas do ego, pois isto se refere à análise "lacaniana", mas como tentei mostrar, é no id com suas maquinações que será "encontrada" a origem dessa "contrafação".)"
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Ficções materiais
Andámos durante anos a produzir textos científicos, a tentar negar a subjectividade, finalmente apareceram uns sábios a dizer que ela é inerente, mas isso já todos sabíamos. Eu prefiro deixar que a emoção actue como um instrumento de percepção. Aproveito-a. Isso está ligado à minha subjectividade. Se não tenho maneira de as evitar o melhor é assumi-las. Ruy Duarte de Carvalho no final de uma entrevista ao DN.
http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=653405
http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=653405
sábado, 14 de agosto de 2010
Cultivo de aves raras
Em homenagem ao abruptalhado Pacheco Pereira o Vai5 manda achas para a fogueira da polémica....
E assim na sua estupidificante dependência face à oferta motociclista deste país da treta - cheio de doutores e opinion makers, cheia de arrogantes mentecaptos, elegantes polemistas, ensimesmados ironizadores, dotados articulistas e um escol de modernaços de boas e más familias de bom e mau gosto que em campo tentam elaborar estratégias de sobrevivência de alto gabarito num caos podre e paupérrimo que nos trava o horizonte e nos dá amargos sonhos estrelados - o intelectualóide low cost vaicinquista lá vai traçando as suas postas na banca espumosa da internet. Pêxe!?
http://abrupto.blogspot.com/
E assim na sua estupidificante dependência face à oferta motociclista deste país da treta - cheio de doutores e opinion makers, cheia de arrogantes mentecaptos, elegantes polemistas, ensimesmados ironizadores, dotados articulistas e um escol de modernaços de boas e más familias de bom e mau gosto que em campo tentam elaborar estratégias de sobrevivência de alto gabarito num caos podre e paupérrimo que nos trava o horizonte e nos dá amargos sonhos estrelados - o intelectualóide low cost vaicinquista lá vai traçando as suas postas na banca espumosa da internet. Pêxe!?
http://abrupto.blogspot.com/
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Todos ao Chão das Donas!
Amigos, irmãos, aficionados da mini fresquinha, camaradas dos chaços! O próximo ajuntamento marafado é aqui em Portimão. Ajuntemo-nos antes que a crise nos mate a todos. Já agora uma pergunta? Querem que postemos meninas de maminhas ao léu da alá-é-grande concentração de Faro?
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